O discurso de ódio na internet, os seus efeitos e as medidas necessárias ao enfrentamento da questão foram abordados na 3ª reunião do Grupo de Trabalho (GT) sobre o tema, realizada nesta quinta-feira (23) em ambiente virtual pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
Na ocasião, foram apresentadas contribuições de especialistas ao debate, como o psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Chistian Dunker; a pesquisadora em democracia digital, Nina Santos; o professor de Literatura Comparada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), João Cezar de Castro Rocha e o youtuber Felipe Neto, que compõem o GT como representantes da sociedade civil, juntamente com outros integrantes.
“As sínteses dessas contribuições abrem novas portas para as recomendações do grupo e reforçam as estratégias para ajudar o Brasil a lidar com esses fenômenos”, disse a presidenta do GT, Manuela d’Ávila.
Em sua primeira exposição no grupo de trabalho, o youtuber Felipe Neto lembrou que o problema é mundial e o combate passa pela educação. “Neste momento, estamos vendo o mundo inteiro tentando encontrar uma solução para a grande problemática do cenário digital que é o chamado discurso de ódio. Estamos vivendo a era da hiper informação. Nunca tivemos uma humanidade extremamente informada, mas com conteúdo de péssima qualidade. Mas há possibilidade de enfrentamento e precisamos ensinar isso para que as pessoas não caiam na articulação do ódio”, afirmou.
A fala de Felipe Neto foi complementar à do professor João Cezar de Castro Rocha, que exemplificou que o discurso de ódio não é novo, remonta a períodos muito anteriores do surgimento da internet, mas com as redes sociais adquiriu características epidêmicas. “O discurso de ódio é a ponta do iceberg. Ele é um sintoma, não uma causa. Uma pedagogia cotidiana de desumanização do outro”, ressaltou.
O enfrentamento ao discurso do ódio segundo a especialista em democracia digital, Nina Santos, não é apenas um fenômeno digital, mas social, do qual a comunicação digital é parte. “Não podemos partir da premissa que apenas a questão da comunicação vai resolver o problema. Ele vai muito além das plataformas digitais. Sobre como podemos direcionar a visão sobre o digital a partir desse entendimento. O discurso de ódio não atinge igualmente todas as pessoas. Grupos historicamente vulnerabilizados são muito mais afetados no mundo digital”, observou.
Já o professor Chistian Dunker elencou os principais pontos que ajudam na compreensão do fenômeno. Desde sua definição, o que não é discurso de ódio e as soluções para sua transformação. “Antes do ódio vem o medo. Ele sempre aparece como uma reação preventiva, que culmina na segregação e aniquilamento do outro. Como por exemplo o medo das mulheres e negros se organizando para alcançar espaços de poder”. De acordo com ele, todos têm direito a perder o anonimato quando não fazem o bom uso. “Fez discurso de ódio tem que ser responsabilizado publicamente”, pontua.
O relator do GT, Camilo Onoda Caldas, pontuou ao final que os diagnósticos e sugestões de estratégias incluem também o Poder Judiciário, que precisa estar constantemente qualificado para enfrentar os novos desafios decorrente da dinâmica do discurso do ódio em ambientes digitais.
O Grupo de Trabalho (GT) foi criado com a finalidade de apresentar estratégias de combate ao discurso de ódio e ao extremismo e para a proposição de políticas públicas em direitos humanos sobre o tema. O funcionamento do GT ocorrerá em três etapas – diagnóstico, depois proposição de medidas e, por último, elaboração do relatório final.