De acordo com a definição da ONU (Organização das Nações Unidas), discurso de ódio refere-se a qualquer tipo de comunicação que incentive ou promova discriminação ou ataques contra uma pessoa ou grupo com base em distinções como raça, religião, etnia, gênero, nacionalidade, entre outras características. Extremismo, por sua vez, é caracterizado por atitudes, opiniões ou ações que são consideradas radicais e que frequentemente promovem a intolerância ou a violência.
Esses conceitos e fenômenos não são novidades na sociedade. Ambos estão presentes na história da humanidade, manifestando-se em diferentes épocas e contextos através de perseguições, discriminações, guerras e conflitos. No entanto, a internet tem amplificado a disseminação e o compartilhamento de discursos de ódio e de comportamentos extremistas, transformando-os em um dos maiores desafios do nosso tempo.
As mídias digitais oferecem uma plataforma sem precedentes para mensagens de ódio e ideias extremistas, permitindo que elas se conectem e se espalhem rapidamente, alcançando um público muito além dos nichos mais fechados onde elas são originalmente gestadas. Essa amplificação facilita a radicalização de indivíduos e grupos, intensificando divisões sociais e políticas no mundo offline. Assim, embora a internet não tenha criado o discurso de ódio e o extremismo, redes sociais e outras plataformas digitais têm potencializado seu alcance e impacto, exigindo novas abordagens e soluções para mitigar esses problemas.
Para compreender a forma como o ódio e o extremismo se propagam online, o conceito de “câmara de eco” pode ser útil. Uma câmara de eco é um ambiente em que uma pessoa encontra apenas informações e opiniões que reforçam suas próprias crenças, sem exposição a pontos de vista divergentes. Ou seja, é como estar dentro de um ambiente onde as mesmas ideias e opiniões se repetem continuamente, reforçando-se a cada repetição.
Dentro dessas câmaras de eco, discursos de ódio e ideias extremistas podem ser validados e intensificados, pois os indivíduos são constantemente expostos a conteúdos que reforçam e radicalizam suas visões. Esse isolamento ideológico impede o diálogo construtivo e o confronto com perspectivas diferentes, facilitando a propagação de intolerância e do extremismo em um ciclo vicioso de reafirmação e escalada do caráter violento desse discurso.
Os chamados “filtros-bolha”, impulsionados pelos algoritmos das redes sociais, também desempenham um papel crucial na intensificação das câmaras de eco e seus efeitos de radicalização. Esses algoritmos personalizam o conteúdo exibido aos usuários com base no seu comportamento anterior e no comportamento de outros usuários que demonstrem padrões parecidos, criando “bolhas” de informação onde se consome predominantemente aquilo em que já se acredita ou que lhe seja similar.
Essa personalização, embora possa melhorar a experiência do usuário, também limita a exposição a informações diversas e contrárias, reforçando preconceitos e convicções pré-existentes. Assim, os filtros-bolha também contribuem para a criação de ambientes online homogêneos e polarizados, onde o discurso de ódio e o extremismo podem se propagar sem contestação ou punição.
Para combater a propagação do ódio e do extremismo online, é crucial fomentar a diversidade de informações e promover o diálogo entre diferentes pontos de vista. Letramento digital, políticas de moderação de conteúdo mais eficazes, algoritmos que facilitem o contato com a diferença, e conscientização sobre os perigos das câmaras de eco e dos filtros-bolha são passos importantes para construir uma sociedade mais democrática, justa e inclusiva.
Isabela Kalil
Antropóloga
Consultora de Mídias Digitais na Assessoria Especial de Educação e Cultura em Direitos Humanos do MDHC
Letícia Cesarino
Antropóloga, pesquisadora e professora
Assessora Especial de Educação e Cultura em Direitos Humanos do MDHC